segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Carteiros em greve participam da Marcha Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras


por Rodrigo Barrenechea, da secretaria de comunicação do PSTU São Gonçalo

  Os funcionários da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos estão em greve desde o
Fotos: Romerito Pontes
dia 15 de setembro por melhores salários e condições de trabalho. O PSTU São Gonçalo conversou com Julio Cesar de Souza Junior, o "Julio Negão", carteiro e delegado sindical do CDD Sao Gonçalo, sobre a greve dos Correios e a participação da categoria na Marcha dos Trabalhadores, convocada pela CSP-Conlutas e por dezenas de outras entidades.

 -  Julio, quando começou a greve dos Correios? E qual o índice de adesão?

 - Decisão da maioria dos trabalhadores em assembleias realizadas na noite desta terça-feira, dia 15, deu inicio a greve dos trabalhadores dos Correios. Os trabalhadores decretaram greve na noite de terça-feira (15) em diversos estados e cidades do país, que são representados por sindicatos locais e regionais. Segundo os Correios, 19 sindicatos decretaram greve: Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Paraíba, Piauí, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Tocantins, Brasília (DF), região metropolitana de Belo Horizonte, região metropolitana de Porto Alegre, região metropolitana de São Paulo, Bauru (SP), Campinas (SP), São José do Rio Preto (SP), Vale do Paraíba (SP).
De acordo com os Correios, 17 sindicatos não deflagraram paralisação: Acre, Pernambuco, Roraima, Goiás, Alagoas, Amapá, Paraná, Rio Grande do Norte, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Sergipe, Santa Maria (RS), Uberaba (MG), Juiz de Fora (MG), Ribeirão Preto (SP) e Santos (SP).
Na noite do dia 15 de setembro de 2015, dos 36 sindicatos dos Correios no país, 17 decidiram não deflagrar paralisação, sendo que 16 aceitaram a proposta do TST. Não houve, portanto, maioria suficiente para a assinatura de acordo”, explicou a empresa, em nota.
No principal centro de distribuição de cartas e encomendas no Rio, em Benfica, houve piquete de grevistas na parte da manhã. Eles queriam impedir a saída dos caminhões de entrega, principalmente os que levavam Sedex, mas os veículos conseguiram sair com a chegada da polícia.
Segundo o diretor da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios (Fentect) Emerson Marinho, a greve conta com adesão de 50% dos funcionários e afetou cerca de 70% das entregas. Muitos dos funcionários que trabalharam, segundo ele, são terceirizados.

 - Qual é a pauta de reivindicações? E a empresa, está disposta a negociar?

 - Entre as principais reivindicações dos trabalhadores, estão a reposição da inflação mais um aumento de 10% de ganho real, a manutenção das condições do plano de saúde da categoria, a realização de concurso público imediato e a contração de 1.500 trabalhadores.
Os Correios ingressaram, no final da tarde desta quarta-feira (16), com ação de dissídio coletivo junto ao Tribunal Superior do Trabalho (TST). Com isso, a empresa retoma sua última proposta aos trabalhadores que propõem um reajuste de 6% nos salários, sendo 3% retroativos a agosto e 3% em janeiro de 2016, além de outros itens. A decisão ficará a cargo do TST.
“A empresa tomou a iniciativa [de ingressar com dissídio] devido à divisão dos trabalhadores em relação à proposta de acordo coletivo apresentada pelo vice-presidente do TST, ministro Ives Gandra, na última sexta-feira.

 - Como está se portando o sindicato, já que ele é ligado à CTB, que é base de sustentação do governo Dilma?

- A Direção do sindicato, que está ligada a CTB/PcdoB, não tem mobilizado os trabalhadores na maioria das unidades de trabalho. Só na minha unidade de trabalho que é o CDD São Gonçalo-RJ (onde fica lotado o carteiro e presidente da CTB-RJ, Ronaldo Leite), a diretoria prometeu que iriam realizar reunião setorial após a aprovação do estado de greve(25/8) e não cumpriram as promessas feitas. 
A maioria dos ecetistas vem se mobilizando e marcando encontro através das redes sociais, o que ajudou a aumentar as mobilizações dos trabalhadores da ECT em todo Brasil. Eu e a maioria dos trabalhadores não confiamos mais nas centrais sindicais governistas CTB/PCdoB e a Articulação Sindical/CUT, pois a gente teme que eles podem terminar com a greve a qualquer momento.

Como foi a participação dos carteiros na Marcha Nacional dos Trabalhadores, neste dia 18, em São Paulo?

 - Milhares de trabalhadoras e trabalhadores de todo o país marcharam contra o governo
15 mil pessoas participaram de marcha nacional contra o ajuste
fiscal, o governo Dilma e a oposição de direita
Dilma, o PSDB, Eduardo Cunha, Michel Temer, Renan Calheiros e o ajuste fiscal. 
A luta da categoria dos Correios também é contra o processo de privatização e suas consequências sentidas na pele por quem está no chão das unidades. Não é coincidência a decadência na qualidade do serviço prestado pelos Correios nos últimos 4 anos, pois trata-se do processo de privatização iniciado em 2011, a partir da aprovação da Lei 12490/11 (com os votos de parlamentares do PT e PCdoB), que modificou o seu estatuto. Esse projeto em curso, chamado pela direção da estatal de “Reestruturação” ou “Projeto Correios 2020” pretende transformar a estatal em diversas subsidiárias. A mais atual é a Correios Par, que já nasceu com capital aberto.
Como parte do processo de privatização, benefícios básicos da categoria são atacados como o Plano Correios Saúde. A partir da criação da Operadora Postal Saúde, que passa a administrar o plano, muitas clínicas se descredenciaram pelo seu acelerado sucateamento. Agora, a estatal quer negociar esse benefício para impor mensalidade (de 6% a 12,9% do salário bruto), restrição de acesso a dependentes (como pai e mãe) e aumento de compartilhamento.
Na atual proposta de acordo também não há nenhuma menção ao escandaloso rombo de mais de R$ 6 bilhões do fundo de pensão Postalis em que sabemos que a estatal quer dividir a conta com os trabalhadores. Também não há nenhum avanço no combate às opressões tanto racial como de mulheres, já que propõe manter as cláusulas do acordo passado.
Ao impor a política de corte de verbas e enxugamento das despesas públicas, o governo Dilma Rousseff do PT confisca parte da receita dos Correios para cumprir as metas de Superávit primário e o ajuste fiscal. Assim, aplica uma política semelhante à dos políticos da direita tradicional, como Alckmin, Beto Richa e FHC (PSDB), Maluf (PP), Eduardo Cunha e Renan Calheiros (PMDB). A culpa pelo mau momento que a empresa e o governo passam não é nossa, não podemos pagar por ele.
A CSP-Conlutas esta na linha de frente da greve. Mas também chama os trabalhadores a se mobilizar a partir dos seus locais de trabalho, estudo ou moradia para se unificar às demais categorias em luta para derrotar o governo. A luta por salário, contra a privatização e por direitos é uma luta de toda a classe trabalhadora e somente sua unidade pode trazer uma grande vitória.