segunda-feira, 29 de setembro de 2014

PSTU São Gonçalo realiza debate sobre a questão palestina

por Rodrigo Barrenechea,
da secretaria de comunicação do PSTU São Gonçalo e Itaboraí

Na quinta passada (25), o PSTU São Gonçalo e Itaboraí realizou o debate "Pode haver paz na Palestina? A luta pela liberdade sob a opressão de Israel", com a participação de cerca de 20 pessoas. Os debatedores - Diogo de Oliveira, geógrafo, professor da rede estadual de educação, diretor do Sepe e militante do PSTU, e Patrícia Santiago, advogada, militante feminista e candidata a deputada estadual - falaram da atual situação da região, após o fim da ofensiva militar israelense, e no contexto da Terceira Intifada palestina.

A situação palestina e seu contexto histórico


Fotos: RB

Diogo iniciou o debate fazendo uma comparação entre a situação das escolas no Brasil - que, apesar de sucateadas, ainda estão sob o controle do Estado - e na Palestina, cuja administração, sob a Autoridade Nacional Palestina, não tem recursos para mantê-las. Nesse caso, cabe à ONU gerir tanto o sistema de educação quanto o de saúde tanto na Cisjordânia quanto em Gaza. Falando sobre os ataques perpetrados por Israel, em resposta a suposto ataques terroristas do Hamas, Diogo afirma que foi "um genocídio, porque atinge todo um povo, toda uma nacionalidade".

As raízes do conflito palestino-israelense remontam ao final do século XIX e início do XX, quando começa a ocupação da Palestina árabe por judeus, inicialmente de forma pacífica e por meio da compra de terras na região. O aumento da importância econômica do petróleo, entre as duas guerras mundiais, altera a situação da região, tornando-a importante estrategicamente. 
Após a II Guerra, a ONU vota uma resolução de partilha da região, dividindo-a em dois Estados: 51% das terras pertenceriam à Palestina, enquanto 48% ficariam com Israel. No entanto, em 1948 o Estado de Israel é proclamado e logo ocupa 57% da Palestina histórica. Após guerras como a dos 6 dias e do Sinai, esse índice chega a 80% da região, levando à fuga dos palestinos para vizinhos como Egito, Jordânia e Líbano. Esses refugiados formariam uma massa de refugiados, que se instalaram em campos extremamente precários.
Mapa mostra a progressiva ocupação da Palestina por Israel
Por outro lado, as ligações entre política e religião em Israel se intensificam, levando à criação de um Estado religioso, segregacionista e militarizado. Ainda segundo o professor Diogo, "vive-se por lá um regime análogo ao Apartheid sul-africano". A questão do conflito militar e a opressão israelense sobre o povo palestino traz uma questão importante para a esquerda mundial, que nos últimos anos tornou-se secundária: o internacionalismo. Para os palestinos, é fundamental que eles saibam que contam com o apoio dos trabalhadores de outros países.
Mas, ainda segundo o geógrafo, a esquerda vive uma intensa polêmica sobre o assunto, sobre a necessidade da destruição política de Israel e a instalação de um Estado único na região. Historicamente, as correntes que lutavam pela liberdade palestina, que se organizavam na Organização pela Libertação da Palestina (OLP), eram a favor de uma Palestina única, laica e democrática e pelo fim da existência de Israel. Contudo, a principal organização a defender tal política, o Fatah - de Yasser Arafat e Mahmoud Abbas -, cedeu em troca da administração de Gaza e Cisjordânia, quando da assinatura dos Acordos de Oslo, em 1993. Mesmo o Hamas - classificado como terrorista por Israel e pelos EUA -, diz que é pelo fim de Israel, mas na verdade abaixa a cabeça para o Fatah em troca do reconhecimento do seu governo em Gaza.
O povo dos territórios ocupados na Palestina, contudo, estão dando sua resposta. A terceira Intifada (em árabe, revolta) agora não apenas volta seus protestos contra o jugo israelense, mas também contra as direções tradicionais palestinas. Estas trocaram o poder que usufruem pelo esquecimento da Nakba (ou tragédia, como os palestinos chamam a fundação de Israel). Elas ainda lutam pela Palestina única, laica e democrática. Por outro lado, diversas correntes da esquerda no mundo também capitularam à existência de Israel, e acabam por concordar com a política dos dois Estados - originalmente proposta pelos EUA, com a concordância da URSS sob Stálin -, sem entender o caráter imperialista e agressivo do Estado de Israel e a necessidade de sua extinção e sua substituição de uma Palestina. A Liga Internacional dos Trabalhadores-Quarta Internacional (LIT-QI) - organização com a qual o PSTU simpatiza - considera que a classe trabalhadora, palestina, árabe e mundial - deve ser protagonista dessas lutas, e que somente uma revolução socialista pode assegurar por completo a realização desses objetivos.

Condição feminina e luta por liberdades na Palestina



A segunda debatedora, Patrícia Santiago, começou por fazer uma comparação entre a situação da mulher no Brasil e na Palestina. Ela salientou a mistificação que se faz sobre o machismo no mundo árabe, dizendo que "aqui o machismo também existe e mata tanto, se não mais, aqui do que lá". Para ela, é claro que existem diferenças culturais entre os dois povos, mas se aqui existe uma maior liberdade para as mulheres, por outra parte, a sociedade palestina tem uma maior preocupação pela proteção às mulheres, com as famílias sempre cuidando de viúvas e filhas.

Uma preocupação apontada sobre a questão da mulher é a opressão israelense, que relacionava maternidade e terrorismo, incentivando estupros e feminicídio como forma de controle político da luta palestina. Neste sentido, diversas manifestações de judeus ao redor do mundo, especialmente de mulheres judias, se levantaram contra essa abominação que é relacionar estupros, assassinato de mulheres e contenção de uma suposta "ameaça terrorista" palestina. Houve até mesmo ameaças e estupros contra essas mulheres que protestavam, por parte de grupos fundamentalistas israelenses.
O que se conclui aqui é que o estupro - condenado como crime de guerra pela legislação internacional - passou a ser uma arma, como uma forma de intimidação contra a luta pela liberdade palestina, através da desmoralização de um povo usando as mulheres como vítimas.
Outro aspecto da ocupação é a alteração no estilo de vida das mulheres nos territórios ocupados. "Primeiro, porque elas começaram a viver sob um estado de sítio, sob extrema repressão. Segundo, porque muitas delas ficaram viúvas e tiveram que ingressar no mercado de trabalho", afirma Patrícia. Porém, apenas 12% delas tem emprego formal, com a maioria das mulheres estando nas ocupações mais precarizadas. Ainda: 75% delas ganham menos que homens que realizam o mesmo trabalho. 

Outro dado levantado por Patrícia é que 40 a 50% das mulheres palestinas desenvolveu algum tipo de transtorno psicológico, devido ao medo dos ataques e à morte de familiares. Isso é importante pelo fato de que, apesar das diferenças culturais, esse dado é resultado da opressão israelense, o que torna a necessidade da extinção de Israel ainda mais importante.

Após a atividade, houve uma confraternização, com os presentes comentando as discussões da atividade e degustando um feijão amigo, preparado pelos militantes do partido.