quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Morte de Santiago Andrade não pode justificar criminalização das manifestações

Jornalistas prestam homenagem a Santiago Andrade durante manifestação no Centro do Rio
Foto: Paollo Rodajna (10.fev.2014)

Bruna Barlach e Erick Dau, do PSTU-RJ.

Santiago de Andrade teve morte cerebral decretada no dia 10/02. Santiago, jornalista, cinegrafista, trabalhador é mais uma vítima da violência de Estado. Desde junho de 2013, com o crescimento das manifestações em todo o país, temos visto a ação truculenta e descabida do aparato policial, em especial da PM do Rio de Janeiro a mando do governo estadual.
O luto não é só de sua família, à qual devemos todos prestar solidariedade, nem só da categoria dos jornalistas, o luto é de toda a classe trabalhadora. É preciso situar a morte do cinegrafista dentro do contexto de luta no qual vivemos. As bandeiras de luta que são levantadas pelas manifestações são contrárias aos interesses do governo e da burguesia e por isso a grande repressão a estes movimentos.

Jornalistas são obrigados a cobrir atos sem condições dignas de trabalho
Ao mesmo tempo em que vivemos um momento de recrudescimento da luta de classes com o governo federal do PT e seus partidos aliados, como é o caso do Cabral, do PMDB, vemos as condições de trabalhos de toda a classe trabalhadora sofrer uma grande piora. Não seria diferente para a categoria dos jornalistas.
Na cobertura das manifestações os jornalistas têm se deparado com diversos problemas, principalmente a falta de equipamentos mínimos de segurança para trabalho, como foi o caso de Santiago, funcionário da Band, que não possuía sequer um capacete (o que poderia ter salvo sua vida). Além disso, o cinegrafista trabalhava sozinho, sem assistente, o que é pré-requisito obrigatório para o exercício da sua função. Isto ocorre porque as grandes empresas de mídia cortam todo e qualquer custo com o trabalhador visando somente ampliar seus lucros.

A morte de Santiago não pode servir para legitimar o aumento da repressão
Independentemente das investigações e sobre quem recaia o dolo, ou seja, a culpa pelo arremesso do rojão que atingiu a cabeça de Santiago, precisamos compreender que alguma coisa está fora de ordem quando numa tarde de quinta-feira as ruas se transformam em verdadeiras praças de guerra, com a polícia sendo acionada para coibir, reprimir e agredir indiscriminadamente as pessoas para impedir que a manifestação prossiga.
Não podemos esquecer que a manifestação do dia 06 de fevereiro, quando o ocorreu o incidente, lutava contra o aumento do preço dos transportes, medida imposta pelo prefeito Eduardo Paes, do PMDB, apesar da evidente bronca da população. Nada mais legítimo para os trabalhadores, estudantes e ativistas que protestar contra este aumento, que só serve para ampliar o lucro dos grandes empresários do transporte do Rio e que prejudica diretamente a população no seu direito mais básico: o direito de ir e vir.

Seguiremos na rua! Cabral (Dilma e Paes) a culpa é sua!
Enquanto a conta recair nas costas dos trabalhadores e não dos verdadeiros responsáveis pelos superfaturamentos das obras dos megaeventos, dos donos das empresas de ônibus e da burguesia como um todo, ainda veremos as ruas do Rio e de diversas cidades do país sendo ocupadas pelas manifestações. Manifestantes que buscam direitos básicos, como saúde, educação e transporte. Sim, direitos básicos, mas que são negados pelos governos, que preferem reprimir os protestos do que ceder às suas reivindicações.
Mas, sabemos uma coisa sobre a morte de Santiago de Andrade: a culpa é do estado de guerra que o governador Cabral criou contra as manifestações, com a cumplicidade do prefeito Eduardo Paes. É da Dilma que estimula criação de medidas anti mobilizações para tentar calar os movimentos e impedir que as pessoas lutem por seus direitos básicos, como o acesso à saúde, a educação, ao transporte e moradia.
As lutas seguirão e junto às lutas os jornalistas estarão nas ruas cobrindo os atos. Resta saber se os patrões vão se responsabilizar pela segurança dos seus funcionários ou se continuarão a colocar a vida dos jornalistas em risco em busca do melhor ângulo, do furo de reportagem, com a maior redução de custos. Os jornalistas precisam estar ao lado dos movimentos sociais e entenderem que antes de serem jornalistas, são trabalhadores, e que estamos todos juntos nessa luta.
Nós do PSTU, não concordamos com ações isoladas que somente contribuem com o clima de repressão e afastam os trabalhadores das manifestações. Passamos grande parte do último ano travando uma profunda, mas respeitosa, polêmica com vários setores do movimento social a respeito de nossas diferenças táticas. No entanto, em primeiro lugar, repudiamos as tentativas da grande imprensa e do governo de criminalizar os manifestantes e usar esta tragédia para atacar o justo direito de ir às ruas por suas reivindicações.

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